sábado, 12 de março de 2011

- Tempestade


Ela estava quieta e pensativa. Sentia o cheiro da grama, do orvalho e da madeira. Tudo parecia tão calmo, tão harmonioso. Ela não queria deixar essa sensação de paz ir embora. Respirou fundo. Um vento fresco tocou levemente a pele de sua face. Arrepiou-se. O vento vinha lhe trazer notícias. Quais notícias? Nem ela mesma sabia responder. O vento sussurrou novamente, mas ela não falava a língua dos ventos. Resolveu seguir a brisa. Quem sabe, a brisa a levaria até ele. Os pés pequenos faziam estralos na grama a cada passo. Os raios mornos do Sol desciam em todo seu corpo, e também queriam lhe dizer algo. Mas ela não falava a língua do Sol.
De repente, a brisa, o vento, o Sol foram embora. O céu ficou cinza, e roncos do trovão invadiam o céu. O Sol gritou. Mas ela não entendia seus gritos. A brisa se despediu, mas ela não respondeu. A chuva caía impiedosamente. Os gritos do Sol foram abafados, a despedida da brisa foi levada. Sobrou só ela e as gotas grossas. Gotas que feriam seu corpo com uma intensidade feroz, e riam sadicamente enquanto ela corria, tentando se proteger. As gotas riam. Ela não se importava. Não conseguia entender os risos. O trovão roncou de novo, sua voz grossa ecoava em todos os cantos. Ela sentiu medo.
Uma árvore amiga sorriu para ela. Um abrigo, pensou. Foi abraçada pelo tronco úmido de uma velha árvore. As folhas balançavam e cantavam ao som da chuva. Ela sentiu medo da árvore. Talvez a tempestade conseguisse a encontrar fácil ali. A árvore, ouviu os pensamentos dela. Sentiu-se chateada e chorou. Ela não compreendia o choro, ela não ouvia o choro. Mas sentia. A árvore não lhe parecia tão confortável. Foi então que viu, ao pé do tronco úmido, uma grafia familiar. Um pobre coração grafado no prego, deixando uma cicatriz eterna na madeira. Ela se abaixou. Tocou o desenho infantil. Ele. Beijou lentamente aquele desenho velho. Sentiu o gosto da árvore.
O som forte do trovão estremeceu todo o seu corpo. Ela caiu de joelhos na terra. Uma luz forte no céu, cortando o horizonte negro. Foi quando ela percebeu, que a luz vinha em sua direção. A luz atingiu em cheio o desenho do velho coração. A árvore gritou de dor, e ela também.
Foi quando, em meio a dor de Natureza e ser humano, ela pode ouvir todos os gritos e apelos dos seres que a cercavam. E eles só diziam uma coisa:
- Não se assuste com a tempestade que a cerca.

Nayara K.

Um comentário:

Anônimo disse...

OOOOOOOOOONNNWWW!! SIMPLESMENTE SINESTÉSICO! Amei, adoro sinestesia! *-* E tb tem aqela simbologia da tempestade! *-*-*-*-*-*